sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Escravos



Há coisas que me fazem confusão desde o início e outras que vão crescendo em confusão.
Mas costuma haver um momento para parar e começar com as perguntas.
Podia escrever sobre "crescimento pessoal", o meu que o vosso depende do quanto investem nele. E, enquanto disserem "alhos" e fizerem das vossas vidas pessoais "bugalhos", não vão longe, quer dizer vão longe na vossa própria "mentira pessoal" mas ninguém se importa mesmo. A vidinha é vossa a mentira também.

Isto é apenas uma chamada de atenção, exactamente igual ao despertador que vos acorda de manhã.
É assim simples, querem ver?
Põem o despertador para vos acordar.
(Adicionam-me como "amiga" no facebook)
Ouvem o ruído estridente na hora que determinaram.
(Lêem o que me entretenho a escrever)
Levantam-se com um sorriso e dizem bom dia ao espelho.
(Entendem o eco que vos ressoa)
Ou simplesmente esmurram o despertador e viram-se para o outro lado, no aconchego da comodidade.
(Chamam-me louca)

Podia fazer um desenho mas agora quero escrever sobre um assunto que parece preocupar o mundo, o homem do momento.
Mas este será um post só para mulheres, aconselho, portanto, os homens a irem ler outra coisa qualquer.
O homem do momento é uma afronta às mulheres!
Será?
Vai causar a guerra civil no seu próprio país!
Será?
É uma "abécula", apenas criou um império porque os outros deixaram.
Será?

A Imprensa quer seja rosa, azul ou cinzenta quer fazer deste homem um palhaço (ao que ele não se faz de rogado, digamos a bem da verdade), as televisões, qualquer tipo de notícia é unanime neste caso, estão todos tão de acordo que até assusta.
A multiparidade racial, social, política e económica são unanimes neste assunto, ora isto por si só já é estranho e, se pensarmos que o deixaram chegar ao lugar aonde está ainda é mais estranho.
Portanto a pergunta que nos deveríamos fazer é: porque está "isto" a acontecer?
Ou será que toda a gente deixou de pensar?
De repente, endeusa-se um outro, galardoado com um prémio da Paz que nunca propagou. Uma paz podre para "inglês ver", mas que a comunicação social levou a bom porto e neste momento adia-se a vida por aproximadamente dois anos para que o desfecho esteja perfeitamente previsto.
Quem é que manda no mundo?

Eu percebo que o homem é uma espécie de louro e que somos formatados a pensar que são as louras que não pensam, o que me leva ao outro tema: as mulheres... mas já lá vamos e, se não chegarmos a ir, não faz mal, temos tempo.
O homem supostamente louco concorreu contra uma mulher supostamente uma mártir traída e contra outros que a comunicação social simplesmente ignorou. Portanto num país tipicamente machista, fantasioso, que sobrevive do que inventa e muitíssimo importante à beira do maior precipício económico que se pode imaginar só mesmo o louco para ganhar e mascarar todas as circunstâncias.

Numa encenação perfeita, os senhores do mundo dividem-se entre a aparente aposta numa criação fabricada à medida das suas exigências (uma mulher que andou nas bocas do mundo como a que perdoa ser publicamente atraiçoada e que de algum modo se vendeu às circunstâncias do lugar que ocupava) e um maníaco deprimente, capaz de arcar com o peso da história (contada pelos mesmos senhores), como o homem culpado pela queda do Império. Uma espécie de Nero dos tempos modernos.
Há sempre alguém que assume o trabalho sujo.

E por trabalho sujo, passo às mulheres. Quem melhor que elas para limparem o trabalho sujo da humanidade?
Mas ele há mulheres e mulheres, embora seja cada vez mais difícil perceber onde está a mulher que não foi transformada em homem ou em carneiro. Nas mulheres o termo "carneiro" não se aplica muito bem, é mais um "maria-vai-com-as-outras" e lá vão elas, essencialmente se for um homem a comandar.
Raramente vão atrás de outra mulher, a não ser que haja um homem dissimulado por detrás.
Aqui percebe-se que a "mártir traída" não tinha condições de vencer, o homem por detrás era um crápula. Mas há outra mulher a quem se pode endeusar o marido e por acessório o Olimpo é alcançável.

A campanha começou muito antes do dia previsto. É deste modo que se cria a história... como fazer uma fogueira.
Quem pensa que um pau e um fósforo fazem uma fogueira, nunca acendeu nenhuma. São precisas as pinhas, a caruma e os troncos pequenos para que o tronco mais grosso comece a arder. Claro que umas acendalhas com petróleo também servem mas o assado não fica com o mesmo gosto e a madeira queima muito mais depressa e não faz tanto calor.

Mas voltando às mulheres e ao facto de serem comandadas por homens, vemos isso a partir do momento em que o estigma de ter nascido da costela de um homem a torna "descendente de um osso".
Se pensarmos que sem mulheres não há homens a coisa muda um pouco de figura e percebemos o medo que os homens têm das mulheres que pensam, daí ser tão importante e urgente reduzi-las a objectos, seja sexuais, seja emocionais, sempre que uma mulher pensa que precisa de uma "metade" para ficar completa é meio caminho andado para a dependência a outra metade aparece pelo vazio criado por "essa metade" que não existe.
E assim temos mulheres submissas e com um sentido de inferioridade que nos aparecem em quase todas as publicações brasileiras que, recentemente a internet e, neste caso o facebook, nos mete, a nós portugueses, todos os dias em casa mas que já vem de longe com as novelas que as TVs importam.
Esse sacrifício e esse martírio religioso é muito difícil de ser combatido. Só as culturas mais ancestrais celebram as mulheres com o respeito e a admiração que merecem, até os homens começarem a fazer da economia o poder do mundo as mulheres transportavam o que de mais importante existe: a sabedoria e a vida.

Agora, vivemos tempos de conceitos trocados: a economia paga-se a peso de ouro e a sabedoria é dividida às postas e posta em causa e bem misturada numa miscelânea de conhecimentos banalizados.
Percebe-se, por isso como é fácil sobrevalorizar o homem (e as mulheres que se transformaram em ”homens”) e menosprezar a essência da mulher.
Portanto, mesmo que seja uma mulher a sentar-se no lugar que o homem louco ocupa, ela terá os homens da economia e do poder a puxarem os cordelinhos onde ela está atada.

E continuarão a serem lançadas milhares de bombas por ano, destruindo povos e arrasando países, sem que ninguém fale nisso.


Ana Paula Claro



«És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela».
Fenando Pessoa


sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Lua Cheia



Ontem à noite, bom ainda não era noite, pouco passava das 6 da tarde e subia a Serra mágica que me permite chegar a casa quando venho da cidade onde agora dou consultas e o dia tinha começado cedinho com fotos ao nascer do sol.

De repente, num ponto abaixo de mim, porque estas coisas das perspectivas é tramado, vejo uma lua completamente laranja que me ocupa metade da janela da frente do carro (para quem não sabe o meu carro é mesmo grande e tem um vidro enorme), mas vamos ao que interessa....
Olho todos os espelhos e na escuridão sem faróis, abrando e quase paro em êxtase.
Na Serra há poucos lugares seguros para realmente parar e conheço de cor os lugares onde o posso fazer mas a visão da lua não será a mesma até, praticamente, chegar a casa. No entanto, os quinze minutos que ainda faltam e a perspectiva mostrar-me-á outra lua.
Não me importo!
Encho-me daquele momento e inspiro aquela lua e a visão magnifica do instante é suficiente. Já me habituei a aproveitar estes presentes de magia. E, continuo a conduzir até casa.
A perspectiva muda, o terreno também e a Serra já ficou para trás e, só nessa altura (nos 500 metros que me separam da casa mais próxima), saio do carro no caminho de terra batida onde o próximo veículo será a carrinha da escola na manhã seguinte. 

Tiro a foto e sento-me no chão.
A Meia-de-Leite (a minha cadela rafeira) já sentiu o carro que conhece bem, estranha o aparato e salta-me para cima, lambendo-me a cara, como quem pergunta se está tudo bem.
Tranquilizo-a e digo-lhe que "vamos fazer de conta que estamos de manhã"....  vamos meditar um bocadinho.

Sei que me entende e olha-me com ar de "se estás bem, já cá volto" e dirige-se à casa, em pulinhos saltitantes, tipo cabrinha a avisar que estou perto e sou doida.

Retomo a mim mas gostei da distração e volto à lua, desta vez é a Lua astrológica que me distrai, sei que está conjunta ao meu Sol natal, daí esta interiorização tão profunda.
Respiro fundo, há demasiados pensamentos em mim, não vale a pena insistir e vejo que a Meia-de-Leite trouxe a filha com ela e a Café-com-Leite não me vai obedecer se a mandar estar quieta. Ainda tenho de fazer o jantar e os miúdos já estão em casa... tenho de ver como ficou a foto...
Levanto-me e entro no carro cheia de toda aquela magia... "tá na hora de voltar pra casa".


Ana Paula Claro de volta ao blog numa sexta-feira 13